19.3.17

manual de como ser lida

Esse texto não é para ser lido como texto é
Para ser sentido por dentro dos tímpanos como
Um grito em uma almofada
Esse texto não dá pra ser nem texto ele é um
Começo de uma gestação problemática que pode nem
Dar luz que pode nem vir a ser matéria alguma
Esse texto não é meu e nunca seria
São olhares lançados ao mundo que reúno na
Audácia de explicar a vida e não é que eu
Acabo me sentindo mais viva
À medida que entro em um processo de derretimento
Para me tornar arte como faz-se dos vidros e da cerâmica

Esse texto nem queria ser texto era mais
Um produto de algo que não se diz
Por letras
Mas acabou se dizendo
Pois esse é o fim que todos temos enfim que é
Nos tornar um emaranhado de palavras

Mas cuidado que
Minha fala goteja em panela furada
Não é para ele que era e não é para eles e elas
Eu falo do mundo o que o mundo me fala
Mensagem sem destinatário

Pode me ler nas lacunas entre estrofes e me ler
Na métrica desobediente e pode ainda me
Encontrar no afeto ruidoso que transcorre minhas
Palavras mais usadas

O que a escrita tem de mais substancial no entanto
Simplesmente não se lê e é
A relação entre eu e as palavras que não são mais minhas
No instante em que as entrego

Exercício de devolução




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Obs.: Vem livro por aí! <3