1.8.16

terreno

Já tem mais de mês eu pulei esse muro estive
Com os joelhos ralados expostos
Com as unhas nas cascas como em tampinhas de
Refrigerante
Já tem mais de mês eu já esqueci qual
Mês eu voltei pra cair de joelhos no concreto
Deixar tecidos da minha pele naquele jardim dos mais
Férteis
Pra nascer de mim outras de mim que falam o meu indizível
Em folhas e galhos que crescem desgovernadamente além
Do meu tamanho

Já é mais de um mês e eu volto com todo o meu constrangimento
Pra podar as folhas que deixei secas raízes famintas e
Mudas
Com minhas cicatrizes já fechadas sem o menor jeito sem a menor fé
Mês depois volto para verificar as condições do solo e
Colher quase nada que cultivei nessa estação de
Poucas palavras

Já é outro mês e não vem uma chuva pra me molhar as bochechas uma
Perda de fôlego qualquer que me atravesse até se transformar em
Palavras embaixo da minha língua
Com a boca vazia mês vai mês vem retorno para enterrar
Páginas vazias

Já tem meses e eu não
Consigo
Sentir


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Eu chamo de fazer uma limonada - escrever sobre a não-escrita. :)