20.12.15

debate

A oposição era ela
Toda dela
Quando os amigos dele não compreendiam
Sua sensibilidade
Quando os carinhos dele esgotavam
Mês adentro
Quando ela apenas
Precisava

A oposição era ele
Só dele
Reclamava se ela descuidasse
No afeto
Se ela mudasse humor e ainda
O espírito
Se ele apenas
Precisasse

Preciso discutir
Precisamos
O que se deu na minha infância sua vida desmemórias
O que se tem nas dobradiças
Os erros as faltas as sobras
Os acertos
A fala

Cansa
Retrai
Descansa
Fica

Sei bem

A oposição tem amor de sobra

13.9.15

sete a um

Quando estou só
Eu passo a pesar
Um milhão de toneladas
Quando estou comigo mesma sou
Leve e
Densa
Escombros de mim mesma
Que poluem vento

Quando lembro de nós dois
Corpos que se cruzaram em uma
Copa de ruas tumultuadas
Lembro
Sentir o extenso recomeço
Que pontua os meus ciclos
Espécie de em-si-mesmência
Ou coisa parecida

Quase carrego
Em mim
A audácia de um coração vazio

Mas quase



poema solar

As meninas de dezembro
Não buscam o que encontram
Sabem do que falam
As meninas de dezembro não
São só
Sagitarianas
São, ainda, mulheres
De sagitário
O que é muito diferente e
Quase o contrário
Entendem até do que não
Conhecem
Sabichonas
E exageram nos temperos e nos
Desfechos
Porque uma vida inteira não
Nos basta
E uma vida inteira não
Nos tem

As meninas de dezembro
São más
E ainda por cima
São livres


8.6.15

orgânico

Aquela fotografia que se foi, como era
Que alguém a encontre e guarde
Embaixo de um copo
Que alguém nos rabisque os dentes e olhos
Que ela possa tingir o humor
Ou amor
De algum outro casal

Aquele retrato que está em caçambas
Em escombros
Que o lixeiro o guarde e mostre
À esposa e filhos
Que possam eles mesmos pensar
Ou sentir
São tantos, pai
Os amores biodegradáveis

Aquele retrato que a gente guardava
Dentro de um livro que a gente
Não lia
Naquela estante que a gente
Não limpava
Fez o dia de alguém mais bonito
Fez um quebra-cabeça
De memórias
Junto às Ruffles e ao papel toalha
Manchado de sugo e óleo
Fez a gente sentir falta

Que caia na mão de Fridas, calos
Que caia na mão de Fernandos, pessoas
Que caia na mão de artistas ou quase
Pra ficarmos vivos em figura e forma
Em mente e ideia
Inspirando
Poeira

Que vire escultura, poema
Espetáculo de curta temporada
Que pare nas mãos certas
Se possível
Nas nossas
Para sabermos da angulação
De nossos sorrisos
Da precisão dos nossos
Corpos
De como éramos e como
Somos

Beleza itinerante
Em sacolas de lixo





19.5.15

jogo da memória

Os casais se repetem dois a dois
Três a três
Um mais um
Fazendo dois iguais aos
Que faziam antes

Os casais se desfazem e depois
Só remontam
Os pares

Fazem danças iguais
E amam o mesmo
Amor
Cansam o mesmo
E de novo amor
Dois a dois
Um por um
Dez iguais

Eu e tu e até
Ela e ele
Eu igual a ela e
Tu igual a ele
Tempos cíclicos
E ainda
Diferentes

Das vida que se cruzam
Pelas mesmas pontes
Formo pares
Meus cabelos e
os fios dela
Teus óculos e as
Pupilas dele
Mãos e cotovelos
Que diferem
Para nos lembrarmos em que
Tempo estamos

O afeto tem todo tipo de tempo
Tempo curto
Tempo gasto e
Tempo afeto
Insistências
Tempos outros
Vidas que insistem
E se cruzam
Sempre
Pelas mesmas pontes

Ensaios reprises refilmagens e
Os mesmos atores
Remontando cenas
Em pares trocados

Jogo da desmemória