26.1.14

sobre vãos e pontes (e pontes sobre vãos)

A maior de todas as saudades é a que sinto enquanto você ainda está na minha frente.
É vontade de existir você em todos os poros. De ter você em todos os meus cantos e esquinas. De colar com você. Há muito 'nósdois' num espaço que não é só de distância física, entre corpos, mas também imaginária; esse 'nósdois' que a gente mesmo criou, e do qual nos nutrimos, pra aonde vai, onde é que fica, em quem se esconde, como se guarda, quando não há atrito entre bocas, entre os dedos das mãos? Existe um vão que a gente não supera nem deitados com as pernas enroscadas, e é a esse vão que eu dei o nome de saudade. Não saudade dos dicionários - a nossa saudade. Eu preciso de você mais do que dá para saciar. Mais dentro do que perto. Mais fora do que dentro. Na minha frente, na minha cara, dividindo do meu hálito. Ainda assim, sinto. Porque saudade é essa divisão entre peles que faz de 'nósdois' dois nós desatáveis - que permanecem atados pela mais bonita das teimosias.

[E ponte final]