3.11.12

folie à deux

'Eu havia reclamado, insensata, do vácuo que se vive entre amores. Ousei dizer que esses espaços de tempo entre desencanto e reencanto eram lacunas de morte dentro de uma vida. Tropecei feio no comentário. Vejo agora: estava acomodada naquela trincheira. Escondida e adorando. Água, sombra e uma paz paradisíaca. O reamor veio em minha vida nas horas mais oportunas, mas dessa vez, sinto, veio pra me apavorar. Puxou pelos braços, pelos cabelos, pelas vísceras. Eu não quis. Não agora. O desejo era livre, errante, como a dona; não tinha direcionamento, e, por isso, não tinha limites, o que me fazia sentir imensa e invencível. Eu sabia, em alguma esquina de mim mesma, que era uma questão de tempo até aquele desejo encontrar um novo objeto para se fixar. O perigo dessa iminência, dessa vulnerabilidade nos meus afetos me excitava e me fazia sorrir com cada encontro, desencontro, despedida. Deixei vagar. Perdeu-se de mim. Voltou antes que eu chamasse. Teimoso.'