11.4.12

campo de guerra



Na discussão que ela começou. No desdém dele, traços mínimos de feição, que só ela reconhece. No almoço requentado que ele come no trabalho. Nos telefonemas que ela não escutou porque estava no banho. No trânsito em que se tem paz porque se está sozinho. No barulho das chaves dele invadindo a fala do ator da novela; a novela dela. No comentário dele, carregado de sarcasmo. No carinho que ele espera. No carinho que ela nega. Na página que ela quis terminar de ler e no assunto que ela quis terminar de conversar. No que ele não quis dela. Na luz que se apaga, no silêncio que pesa. No cheiro que tem a cama depois da reconciliação. Nele, nela.

O amor é lindo.

4.4.12

programação



 Eu quero passar a madrugada falando de amor. Insistir que Lacan sacou o desejo humano há décadas e que ainda tem gente cientifizando os afetos quase que de teimosia. Eu quero descobrir uma entrelinha nossa que me ruborize o rosto. Quero constrangimento, novidade, estranheza. Também quero intimidade, simbiose e frases suas que abracem as minhas. Vou beber um pouco mais do que o previsto e dançar até no intervalo entre uma música e outra. Vou me sentar com você em frente à janela, mal ver seu rosto na meia luz, já saber que você está sorrindo. Daí a gente janta o jantar que deu errado. Ama do jeito certo. Dorme vestindo suor. Quero isso, mas quero pra todos os dias, como o filme da Coppola que não sai mais da programação e sempre vem pra me arrancar sorriso, que audácia, como se fosse pela primeira vez...